Jacaré, também chamado aligátor e caimão, são crocodilianos da família Alligatoridae, sendo muito parecidos com os crocodilos, dos quais se distinguem pela cabeça mais curta e larga e pela presença de membranas interdigitais nos polegares das patas traseiras. Diferenciam-se dos crocodilos ainda com relação à dentição, o quarto dente canino da mandíbula inferior encaixa num furo da mandíbula superior, enquanto que nos crocodilos sobressai para fora, quando têm a boca fechada.[1] O tamanho de um jacaré pode variar de 1,2 metros (jacaré-anão) até 5,5 metros (jacaré-açu), podendo pesar de seis a seiscentos quilos.
Os jacarés habitam as Américas, tendo desaparecido da Europa no Plioceno.[carece de fontes?] Na América do Norte, ocorre, somente, o gênero Alligator.
Etimologia
O termo "jacaré" se origina do termo tupi "îakaré", ou "jaeça-karé", que significa "aquele que olha de lado"[2] O termo "aligátor" se origina do termo inglês "alligator",[3] que provavelmente é uma forma anglicanizada do espanhol "el lagarto". Algumas variações antigas da grafia em inglês incluem "allagarta" e "alagarto".[4] Já o termo "caimão" se origina do termo taino "kaiman".[5] Caimão é um nome comum a diversos jacarés americanos do gênero Caiman.[6]
Características
Os jacarés se diferenciam dos crocodilos por possuírem uma cabeça mais curta e mais larga, com focinhos mais avantajados. Jacarés ingerem carne e peixe.[7]
O menor jacaré é o jacaré-anão, cujo comprimento varia entre 1,2 e 1,4 metros e pesa de 6 a 7 quilogramas. O aligátor-americano tem um tamanho médio de 3 a 4,6 metros, chegando até 5,3 metros[8][9] e 400 quilogramas.[10] O tamanho médio do jacaré-açu é de 2,8 a 4,2 metros, podendo alcançar os 6 metros e mais de 400 quilogramas.[11]
Distribuição geográfica
O aligátor-americano (Alligator mississippiensis) é uma espécie típica dos Estados Unidos.[12] O aligátor-chinês (Alligator sinensis) é encontrado no leste da China, na região do rio Yangtzé.[13] Os jacarés da subfamília Caimaninae são encontrados na América do Sul, porém o jacaretinga (Caiman crocodilus) também é encontrado na América Central e sul do México.[14]
Classificação taxonómica
Caça ao jacaré pelos nativos do Novo Mundo
Ilustração de Nativos do Novo Mundo capturando jacaré com corda
Os nativos do Novo Mundo apreciavam a carne do jacaré e utilizavam seu couro para fazer gamelas. Os ovos do jacaré eram muitos apreciados pelos Kaxúyana do Amazonas e Pará, que os consumiam durante as refeições.[31] Ossos deste animal eram usados como ponta da zagaia, uma lança curta usada pelos Guató do Mato Grosso.[32]
O jacaré era um voraz predador dos peixes eventualmente presos às armadilhas montadas pelos nativos nas pescarias. O animal também estava associado à lenda do fogo, já que se acreditava que ele engolira o fogo que o deus Tupã esquecera sobre uma pedra.[33]
Os Kisêdjé do Mato Grosso consumiam uma grande quantidade de jacarés.[34] Os Timucua da Geórgia e Flórida também o faziam[35] e os Pariana e os Kayu-vicena dos rios Tocantins e Solimões estimavam a carne do jacaré feita no moquém.[36] Os cintas-largas, de Mato Grosso e Rondônia, capturavam os jacarés arrancado-os de suas tocas nos leitos dos córregos.[37]
Quando o nativo amazônico encontrava algum jacaré dormindo parcialmente enterrado no barro aproximava-se com cautela e colocava um pé na cabeça e outro no dorso do animal. Enterrava a mão no lodo e, puxando a pata, virava o jacaré de costas. Amarrava suas patas e boca, dominando-o.[38]
Também caçavam crocodilos e jacarés com um pedaço de pau com as pontas bem afiadas. Quando o animal estava no seco tomando sol o índio se aproximava do lado do sol e quando o animal abria a boca para atacá-lo, ele nela enfiava a mão com a estaca e ao tentar abocanhar a mão a estaca se cravava na parte superior e inferior da boca do animal.[39]
Na captura de crocodilo e jacaré, nativos venezuelanos utilizavam uma corda comprida de couro de peixe-boi, na qual havia um laço em uma das extremidades. Dois índios, um segurando a corda e o outro o laço, se aproximavam sem serem percebidos do animal que estava tomando sol. Ao mesmo tempo em que a fera se jogava na água o índio laçava sua boca e subia em cima dele. O animal tentava nadar, mas não conseguia devido ao peso que estava nas suas costas e ia afundando, ao mesmo tempo que o índio dava outras voltas com a corda, amarrando ainda mais a boca. A gordura do jacaré era muito utilizada pelos nativos na feitura de pães.[39]
Na contramão da maioria de outras tribos, os suruís-paíteres, de Mato Grosso e Rondônia, não comiam jacaré,[33] enquanto que mulheres gestantes dos ianomámis, do Amazonas, não comiam jacaré para que a criança que ia nascer não se parecesse com este animal.[40]
Referências
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↑ [1]
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